sábado, 4 de março de 2017

Experiência de estar no Cartel

Cartel: a importância do Não-Saber no espaço do conhecimento. 

A experiência em participar de um Cartel é única, pois mesmo sendo uma atividade coletiva, as sensações e sentimentos que emergem desse momento é muito pessoal. A troca entre os membros é o ponto-chave para a construção de novos conhecimentos sobre a psicanálise e dentro desse espaço de conhecimento há um lugar muito importante que é o do Não-Saber, fazendo com que o sujeito saia de sua zona de conforto, destituindo-o do patamar de detentor do saber, patamar esse que nós elevamos tal pessoa ou a nós mesmos. 
A beleza do Cartel é essa! Não há um mestre. Como me foi dito num Cartel que faço parte: "O não-saber é tão importante quanto o saber". Quando admitimos o não-saber, abrimos espaço para a construção de novos conhecimentos, aceitamos humildemente que a ignorância os acompanha e o saber pode vir e deve vir das mais diferentes áreas e lugares, precisamos de saberes heterogêneos e que em cada experiência ganhamos mais conhecimento e assim é o Cartel. A cada encontro são construídos novos saberes e são fortalecidos laços interpessoais que contribuem para o crescimento profissional e pessoal de cada cartelizante. 
O Cartel como base da escola de Lacan, onde todo aquele que possui o desejo pelo conhecimento e/ou quer se aprofundar na teoria e prática psicanalítica pode participar, assim abrindo uma porta para uma diversidade de saberes, ao englobar pessoas das mais diferentes áreas do conhecimentos e com as mais diversas experiências de vida. 
A participação em um Cartel parte primeiramente do desejo em estudar a psicanálise e sua relação com o sujeito e sociedade em todas as suas nuances. Quando 4 + 1 se encontram com o desejo em comum pelo saber psicanalítico, surge um Cartel, tendo como norte um assunto em comum, embasado por textos e escritos de Sigmund Freud, Jacques Lacan e outros expoentes da teoria e prática psicanalítica. Se debruçam afim de esmiuçar esses escritos, expondo suas ideias e pensamentos, tudo com o intuito da formação continuada e a construção de novos conhecimentos, num processo de ensino e aprendizagem mútuo e horizontal. 
Nesses estudos vimos que textos como: Os Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905), Eu e o Isso (1923) e o Mal-Estar na Civilização (1930) de Sigmund Freud são extremamente atuais em 2016, sendo temas que ainda constrangem e polemizam nessa sociedade heterossexista e patriarcal. O que demonstra um grande grau de imaturidade dessa sociedade que não consegue evoluir aceitar (respeitar) a diversidade que está implícita ao ser humano. 
Por fim, encontrei no Cartel o espaço de estudos que há muito tempo desejava. Um espaço de troca, onde cada sujeito está ali por prazer, em busca de autodesenvolvimento e que não há um ser que possua o saber total ou único. Um espaço de estudos, de reforçar laços interpessoais, criar amigos e parceiros. O Cartel é o espaço de estudos mais lindo e único que existe, pois há um grande lugar para o conhecimento, porém abre espaço para o Não-Saber, fazendo que esse experiência seja transcendental. 

Thiago Lopes de Lima 
Psicopedagogo e Coordenador de Comunicação do Fórum do Campo Lacaniano – Curitiba.